"Me Deixa Que Hoje Eu tô de Bobeira"

Em sua aprersentação no "Drinks, Pensamentos e Palavras", o discurso da médica  cardiologista, Carla Verona versou sobre o comportamento, consumo e liberdade. Leia na íntegra o teor de sua explanação.

Me Deixa Que Hoje Eu To de Bobeira é um grito de liberdade social, libertar – se do seu a dia a dia civilizadamente convencional: trabalhar, ganhar dinheiro, ter sucesso, emagracer, ir para academia, ser legal, ser bonito, ser saudável, comprar a casa própria, comprar o carro próprio, ter o relacionamento próprio, e por aí vai. Tudo isso pra quê? Para manter a cultura do hedonismo da sociedade ocidental, e manter a grana circulando.

A valorização do  prazer consumista não se sustenta mais. O mundo está reclamando. O planeta está dando os avisos. Os valores necessitam ser transformados.  A teoria da transvalorização de valores de Niestzsche. Em um trecho de uma entrevista de Scarllet Marton, para a revista Conhecimento Prático Filosofia 17, ela escreve: ”Niestzsche vai dizer que os valores morais não são eternos, mas sim, humanos, demasiadamente humanos... Portanto, foram criados, e assim podem ser transformados, podem desaparecer e dar lugar a novos valores... Os novos valores propostos por Nietzsche... estão em consonância com a Terra, com a vida e com o corpo... se os valores são efetivamente criados, nós somos os criadores... estamos inteiramente implicados naquilo que criamos. Dessa forma, não podemos nos colocar com meros espectadores, pois nós construímos nossa sociedade. Não podemos nos colocar nem como vítimas.”

Atualmente o egoísmo impera, o pronome eu não é mais a primeira pessoa verbal, ele tomou o lugar do tu, do ele, do nós, do vós, e do eles. O homem precisa parar de ser lobo do homem. O ser humano precisa se mais humanista, valorizar o outro como igual, querer tanto a sua satisfação e felicidade quanto a do outro.  O budismo é a religião mais humanista que conheço, pois visa a felicidade própria e a do outro, a partir da transformação interior de cada ser. No budismo todos temos o estado de Buda, que seria um estado latente de sabedoria, desta forma o outro é tão importante quanto eu, seja quem ele for, pois ele também é um Buda. O budismo visa à paz mundial, num mundo de pessoas felizes. A felicidade do outro é tão importante quanto a minha, seria o “emaranhamento entre os seres”. 

 Na física quântica existe o quê chamamos de emaranhamento quântico. O que é este fenômeno? Imaginemos um elétron na Terra e outro na Lua. Observando neles o emaranhamento: o que quer que aconteça com um, acontece simultaneamente com o outro (NIELSEN – 2005 e COLLINS - 2006). O emaranhamento quântico é um fenômeno da mecânica quântica que permite que dois ou mais objetos estejam de alguma forma tão ligados que um objeto não possa ser corretamente descrito sem que a sua contra-parte seja mencionada - mesmo que os objetos possam estar espacialmente separados. Isso leva a correlações muito fortes entre as propriedades físicas observáveis dos diversos sub-sistemas.  Portanto voltando à questão do ser humano humanista, teríamos em escala macroscópica e social, o conceito de “emaranhameto entre os seres”, se o meu semelhante está feliz eu também estarei, por uma simples questão de física. 

   

Me Deixa Que Hoje Eu To de Bobeira também pode ser um grito de liberdade mental. Se deixe estar de bobeira e esvazie sua mente, liberte-se de pensamentos teleguiados pelo consciente coletivo, seja você o dono dos seus pensamentos, permita-se ser quem você realmente é segundo Nietzsche: “torna-te quem tu és”. Você sabe quem você é?  Você é quem você quer ser? Parece fácil, mas tente responder essas perguntas. Apenas tente... A liberdade total seria: ser quem você é, sendo quem você realmente quer ser, mesmo quando você não estiver de bobeira.