domingo, 31 de julho de 2011

Vinho é coisa de rico...

Foi em tom de brincadeira, mas o "drinks, pensamentos e palavras" aconteceu. E veio pra ficar. O que era só uma brincadeira ideologizada amadureceu e ganhou ares e forma de projeto. Mas que projeto? Nem a gente sabe, mas sei que estamos gostando. E esse aqui é meu primeiro post como colaborador do blog que leva o nome do evento que dará origem à série.

Aproveitando a deixa da colega Carla Verona, que em seu post anterior discorre sobre as relações em suas diversas matizes no cenário globalizado, proponho uma reflexão sobre o título da postagem: vinho é coisa de rico? Comida refinada é coisa de rico?

Em minhas infindáveis visitas a supermercados, mercados e feiras livres, rotina de quem trabalha com comida, sempre observo o comportamento dos diferentes tipos de consumidor frente às gôndolas e seus mais diversos produtos, em áreas que concentram pessoas com diferente poder aquisitivo. Mas, tomando como exemplo o vinho, a grande maioria hesita ao comprá-lo. E nem é pelo preço, já que hoje ele é bem mais acessível, e sim pela falta de conhecimento. Vinho, relação de consumo e retenção de conhecimento - tríade nefasta, onde pode-se substituir o vinho por outros produtos denominados de exceção.

A origem do vinho remonta a aurora do homem. Porque estigmatizá-lo? Seria uma necessidade de especulação para obtenção de lucro? Nossiter, em seu polêmico documentário Mondovino trata da questão. Fala de como o vinho tornou-se industrial e plano, no que concerne a lucro e gosto, respectivamente. Mas mesmo assim as pessoas têm resistência. Disseram antigamente que não era pra elas. Mas por que o prazer lhes é negado?
Epicuro de Samos escreveu seus ensaios sobre o prazer. A Grécia antiga e suas ágoras eram repletas de artistas, todos encarnando suas personas. A praça era do povo. Até Castro Alves disse isto! Mesmo os Titãs do iê-iê-iê flertam com o tema ao cantarem "a gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte". Mas flertam com a máxima romana do "pão e circo" onde a comida é a alimentação de subsistência (em oposição aos rega-bofes da alta sociedade do império) e a diversão uma pantomima ou espetáculos sangrentos no coliseu, com direito a gladiadores lutando até a morte ou escravos sendo engolidos por leões famintos. Alguma semelhança com a "feijoada pra encher a barriga" ou a programada e com horário marcado invasão do Complexo do Alemão, televisionada ao vivo? Ou os Mixed Martial Arts (eufemismo para vale-tudo) ? É, Roma conquistou a Grécia...

Num contexto de revolução industrial, Maslow e sua teoria da Hierarquia das Necessidades, tenta explicar ou justificar a obtenção do prazer de acordo com o poder financeiro, estando restrito ao topo da sua pirâmide o prazer hedonista, a cultura e a educação. Lá na base, está o prazer carnal, o sexo. O pobre só pode fazer filho, não pode ir ao teatro. Lá, na Grécia, não era assim. No interior da França, o queijo de cabra é feito com leite cru, não industrializado. E é barato. O vinho de lá é bom, tem personalidade. E lá, é para todos. A França taxa seu vinho como alimento; Brasil e EUA, como bebida alcoólica. Os EUA parecem Roma. O Brasil está parecendo Roma. Poderíamos parecer com França, que na segunda guerra comeu gato recheado com rato, mas o fez com educação. Lá no nordeste comiam rato, e era feio. A gente quer comida, de qualidade, a gente quer beber vinho bom e cultura. O povo só sabe o que é bom depois que experimenta. O gosto é SUBJETIVO.

Um comentário:

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